domingo, 12 de dezembro de 2010

Circo da solidão


Quando dou risadas ou os faço sorrir,
é só pra não transparecer meu íntimo.
Meu bom humor é como um vidro fumê
que impede que os de fora vejam meu interior.
Meu sorriso aberto é um disfarce.
Como numa máscara,
a única coisa verdadeira são meus olhos.

É como se o sol, com todo seu calor e exuberância externos
escondesse em seu núcleo uma pedra imensa de gelo.
Como se os cientistas descobrissem que a real fonte
do seu calor natural fosse, pra surpresa de muitos, um meteóro
de gelo grandioso e concretizado bem no meio da estrela.
"O sol é falso!" - Diriam muitos.

Mas se o sol na verdade fosse assim, ele não seria falso.
Ele seria extraordinário. Mais do que já é.
Um mágico capaz de transformar tanta frieza em calor intenso.

Minhas decepções, escondo dentro de mim.
Junto com elas: minhas raivas, tristezas, angustias...
Por fora, me pinto de palhaço:
Pó branco, nariz vermelho e sapatos maiores que meus passos.
No circo da minha vida, a platéia ri.
Sem notar que sou tão triste quanto eles.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Amnésia


"Algum dia Avellaneda me esquecerá assim? Eis o mistério: antes de começar a esquecer, ela tem de lembrar, de começar a lembrar." (Trecho do livro "A trégua", de Mario Benedetti)

A maior máquina não fabricada que existe, o cérebro, por vezes, pifa. falha.
É uma pena às vezes, quando percebemos que esquecemos algo que nos era muito importante:
A camisa branca preferida, 'o dinheiro que eu guardei', o rosto de alguém que já se foi há um bom tempo.

Mas esquecer é como uma peça das muitas de um quebra cabeça. É mais uma carta de baralho que sintetiza a jogada. Um dos dedos da mão.

Quando questionamos: "lembra de mim?", não se decepcione se ouve: "Esqueci, desculpe." Pois o esquecimento é prova de uma outrora lembrança.

Lógico que é mais fácil compreender quando nós nos esquecemos de alguém do que quando nos esquecem.
É mais cômodo dizer que ouvir.

Esquecer faz parte da nossa memória. Se esquecemos de algo é porque algum dia ele fez parte de nós. Da nossa vida. Não esquecemos algo de que (ou quem) sequer lembramos. Esquecer faz parte do processo de lembrar. Paulatinamente nossa lembrança se esvanece.

A amnésia também pode fazer parte da memória, assim como uma separação também faz parte de uma história de amor.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Foi muito bom...


Foi bom viajar,
ver tudo do alto.
Olhar pro mar e terra e ver tudo pequenininho.
Desejar que deste tamanho também fossem meus problemas.
Foi bom descer em terra firme, sentir tanto calor de molhar a camisa.
Sentir o cheiro da praia, pegar um bronze, matar de inveja o pessoal do trampo.
Foi bom rever os parentes, velhos amigos. Fazer novos amigos, que se tornarão também velhos amigos novos.
Foi bom me fazer chorar e relembrar.
Passar por pontes, viadutos, rir, contar piada, rir de novo. Rir de tudo um pouco.
Foi bom relaxar o corpo, a mente, a vista.
Aliás, a vista talvez tenha sido a única que não descansou de tanto trabalhar
em ver tudo bonito.
Foi bom tirar férias. Curtas,sim. Mas muito boas.
Talvez só não tenha sido bom voltar. Mas isso a gente deixa pra lá...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Toda bossa é nova e você não liga se é usada"

Eu faço show pra me divertir.
Ganhar dinheiro pra gastar quando eu sair.
Eu canto samba não é porque eu gosto...
mais popular não há.

O meu talento não é surpreendente,
mas me ajuda a pagar o aluguel.
Quem sabe um dia eu cante a minha bossa
pra desencantar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Recado pra você

Queria ver você sorrir mais.
Espaçando os lábios.
Te ver feliz, contente.
Te desejar paz, sossego.
Mandar um email, contar uma novidade, um segredo.

Queria te fazer uma surpresa
te chamar em casa, fazer um bolo.
Assistir um filme dublado pra não te cansar.
Comer no Mc.
Te dar um livro, uma lembrança.
Fazer um poema.
Colocar nossa amizade em letras.

Pudera voltar no tempo...
Não para mudar alguma coisa,
mas pelo prazer de sentir de novo
o que passamos juntos
o que rimos juntos
as besteiras que falamos
o que nos presenteamos.
o exato momento em que um percebeu que podia ser amigo do outro.
Relembrar os cafés da manhã de Domingo.
Os pães com mortadela que eram iguais a tantos outros
mas tinham em si, um sabor diferente

O que aconteceu?

Não quero ser como uma mosca escondida em tua casa pra saber o que acontece.
Muito menos um psicólogo que ouve problemas e não receita um remédio pra curar.
É como asfalto que recebe a água da chuva e não é capaz de fazer nascer uma folha sequer.

Quero ser uma poltrona larga e aconchegante,
onde podes sentar e levar os pés até o assento. Dormir sem querer.
Quero ser a beira da praia,
Onde você, descalça, põe os pés e sente a água do mar escorrer por entre os dedos, voltando pro infinito.

Não quero ser mais um problema.
Não quero ser a solução dos seus problemas
Nem saber dos seus problemas
Quero apenas que saiba que estarei lá,
como uma poltrona.
A beira da praia
Que mesmo sem dizer nada, sentem.
Quero ser apenas... seu amigo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Eu sou uma pessoa má.
Eu menti pra você.

Corpo Cansado


Vou ficar sentado no banco em frente a praia
esperando a noite chegar.
Tiro os sapatos, as meias. Vejo as veias esverdeadas dos meus pés, cansados de me levar onde minha mente planejava ir.
Levo eles até a areia e sinto um formigamento delicioso que me faz levantar o canto direito da boca ensaiando um sorriso.
Até a noite vir, fico assistindo um filme. Belíssimo.
É quando a tarde chega, anunciando que a noite está próxima.
Percebo donde estou repousado, uma enorme linha horizontal: O encontro do mar com o céu.
Me é estranho saber que aquele não é o fim do horizonte.
É apenas uma ilusão ótica do limite.
A estranha sensação humana de achar ou querer que tudo seja para sempre, mas saber que no fundo, tudo tem seu fim, assim como teve um começo.
O cheiro de sal toma conta do meu olfato.
Tanto, que chego a sentir o gosto.
Ouço crianças gargalhando, possivelmente como resultado de cócegas no abdôme ou simplesmente de felicidade.
Minha visão, embora limitada pela idade e por 75 anos de uso contínuo, ainda me dá licensa para distiguir as nuances que apenas um fim de tarde poder trazer.
Só a natureza é capaz de brincar com as cores que quiser, as cores que achar melhor, e ainda assim não ser brega.
É um filme, como disse, belíssimo.
Por mais um pouco de tempo, o clímax vai-se embora.
Os tons azul-escuro-da-meia-noite começam a tomar conta da paisagem, até que a noite finalmente chega. Já não enxergo um palmo a minha frente.
Tateio o banco á procurar pelas meias. As acho. Visto-as e em seguida calço os sapatos amarrando com dificuldade os cadarços semi-gastos.
As juntas das mãos me cansam todo o corpo.
Volto a encostar as costelas no encosto do banco.
Me levanto, procurando apoio no banco com as palmas das mãos. Me equilibrar é outro sacrifício.
Apanho do bolso meus óculos e consigo ter uma sobre visão do que ocorre em minha volta.
Já na metade do caminho de volta pra casa percebi que minha carteira, meus documentos, haviam ficado no banco da praia, guardando a foto da minha neta.
"Dane-se!" - Resmunguei.
O dinheiro, tem mais em casa.
Os documentos, tiro outros depois.
A foto de minha linhagem, guardo na memória.
Só o que não posso recuperar é minha saúde.
E esta, eu não deixei esquecida no banco. Levo a saúde, ou a falta dela, sempre comigo.
Porque se tivesse esquecido as doenças dentro da carteira, também não faria a mínima questão de voltar pra pegar!

...Andando, devagar, com dificuldade; agradeço a Deus por ter me permitido viver todo esse tempo.
A vida... é um dom que não merecemos. É um presente. Um milagre divino.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Laranjeira

Na minha casa tem uma laranjeira
Que no outono fica toda cheia
de laranja; é claro!

Atrás de casa tem um grande lago
que está repleto de peixes coloridos:
Tem verde, azul, transparente...
Tem um que eu acho até que parece com a gente

Na minha casa tem uma roseira
que a minha mãe rega toda sexta-feira
e segunda também.

Eu tenho um cachorro muito engraçado
que corre de um lado para o outro lado
de tanta alegria ao me ver chegar...

Eu quero voar como o super homem,
pular de prédio em prédio e fisgar quem amo com a minha teia.
Eu quero ser o Hulk, ter um muque bem forte!
só não gosto da idéia de virar verde-abacate
eu quero estar por toda parte.

Eu quero ser um dos vigilantes
só pra acabar com a guerra que o homem fez no vietnã.
vou cultivar agora um pé de feijão
só pra poder subir e tocar o céu com a minha mão.
Pra fugir do gigante,
eu vou correr bastante
para um lugar que só eu sei.

domingo, 22 de agosto de 2010

Bola de Gude

Era um dia nublado. Tinha 9 anos, eu acho.
As nuvens cinzentas, umas mais outras menos,
anunciavam uma iminente chuva.
Pouco me importava com isso, pra desespero da minha mãe, que me pedia pra entrar em casa.
Pedia isso por dois motivos:
Um, para não ficar resfriado. Dois, pra não melar a roupa.
A terra da rua encharcada da água da chuva maculava toda minha roupa naqueles momentos.
Pouco me importava.
Principalmente naquele dia em que estava prestes a ganhar de todos os meninos. Perto de ganhar a bola prateada do Júlio. Um negrinho de beiços largos e gordos que morava no final da minha rua.
A disputada e invejada bola de gude prateada de Julio era herança de seu falecido pai. Seu Carpo. Ele era eletricista náutico e havia trazido o presente para o filho, de uma viagem a Portugal. Costumávamos jogar assim:

Fazia-se um círculo de tamanho médio no chão e dentro dele se colocava um número pré determinado de bolas de gude. O número de bolas colocadas no círculo tinha de ser igual para cada jogador. A uma certa distância do círculo tentavamos, um por vez, fazer com que as bolas saíssem do círculo. As que saíssem ficava sob a posse de quem a tirou de lá. Haviam outras pequenas regras que não vem ao caso. O mais importante era que, jogo vai-jogo vem, o burro do Júlio deixou que sua bola prateada ficasse dentro do círculo. Praticamente sozinha. E era justamente a minha vez de tentar tirá-la de lá. Minhas mãos tremiam de angústia e só de pensar que aquela bola de gude prateada, dentro de alguns segundos, podia estar entre tantas outras bolas dentro do bolso do meu calção já rasgado de tanto uso. Mirei. Mirei durante tanto tempo que todos os meninos gritaram desesperados par ir logo: "Vai logo seu marica! Se tu errar é a nossa vez!". Me chigavam de marica só pra me desconcentrar. Mas não deu certo.
Como se não fosse possível, vi a bola de gude prateada rolar feito criança na grama, pra fora do círculo.
Fiquei em estado de choque. A ponto de nem sequer correr atrás da bola pra pegá-la com medo de que os outros meninos a fizessem por mim. Agora, mirei para o rosto de Julio. Os buracos da sua narina, que já eram grandes, inchavam e desinchavam por causa da sua respiração descompassada de tanta raiva de mim, por conquistar sua herança, e de medo, por não saber o que dizer pra sua mãe caso ela perguntasse pela bola prateada que havia recebido do pai que já não poderia lhe presentear com outra. Uma relíquia perdida num jogo de azar. Quem dissse que crianças não sabem jogar?

Como se quisesse nos dispersar e evitar ver 2 crianças se agrarrando no chão dando socos e ponta-pés, Deus deixou cair suas lágrimas em forma de chuva pesada justamente na hora em que Júlio correu pra cima de mim e só assim saí do meu estado paralítico para apanhar a bola que havia acabado de ganhar e atender o chamado da minha mãe que, naquele momento, foi minha salvação pra não me chamarem de covarde. Corri pra casa imediatamente,
me desculpando bem alto: "Tô indo, mãããe!"

Da janela da sala de casa, de joelhos no sofá, pude ver Júlio sentado no chão de terra, todo melado. Os meninos tinha ido embora, todos. Não consegui saber se o Julio chorava, pois as lágrimas divinas podiam estar misturadas com as suas. Ou não. Mas pelo rosto caído pude ver o quanto seu peito devia estar doendo por perder sua bola de maneira tão banal. O cabelo crespo parecia ipermeável á água da chuva. Saí da janela. Meti a mão no bolso do calção e catei a bola prateada. Era minha agora. Mas alguma coisa me impedia de sorrir por aquele feito. Não fiquei feliz. Pelo contrário. Senti pela primeira vez, vergonha de mim mesmo. Um sentimento que se tornaria comum durante minha vida adulta. Decidi fazer algo improvável pra minha capacidade de percepção. Desobedeci minha mãe, me levantei do sofá, abri a porta e fui caminhando até o Julio. Perto dele, não chamei seu nome. Apenas disse: "Ei...". Julio olhou pra cima e me viu em pé, próximo a ele. Como se aquilo não significasse absolutamente nada, voltou a abaixar sua cabeça.
"Toma. Ela é sua." - Disse eu, abrindo minhas mãos e deixando visível e palpável a bola de gude prateada.

Julio não disse nada. Se levantou, pegou a bola de volta da minha mão, enxugou com o braço negro as lágrimas que ainda permaneciam disfarçadas em seu rosto e foi embora pra casa. Virou as costas e saiu andando. Ainda pude ver de longe ele colocando a bola prateada no bolso e protegendo com a mão todas elas, com receio que de alguma maneira a pudesse perder de novo.

Ouvi mais uma vez minha mãe já nervosa chamar por mim:
"O que é que você tá fazendo na rua, seu infeliz? Já pra dentro!". Me assustei e quando dei por mim, estava todo molhado da chuva. A minha mãe mal podia saber que eu havia feito algo da qual ficaria orgulhosa:
Abri mão da minha alegria, que me é de direito, pra fazer voltar a alegria de uma outra pessoa.
Sacrifício. Essa é a palavra.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mira Ira (Karina Buhr)

Tá tudo padronizado
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não
Tá tudo padronizado

Me mira ira
Me mira mas me erra...
Mas minha mira me era confusa
Mudando meu amor de endereço
Fria.
Não mira ira
Não miro mas te acerto no peito
Quando mudo meu amor de endereço
Me mira ira
Me mira mas me erra no escuro
Sentindo teu amor profundamente

domingo, 25 de julho de 2010

Serei sempre uma cobaia?

Queria que meu coração batesse mais forte,
mas não de emoção.
Sentir de novo a sensação quase orgásmica
de amar e ser amado em troca.
Já faz tempo que pude servir de cobaia da paixão.
Permitir que ela fizesse, pelo menos em mim, a sua primeira experiência.
Deixei que ela colocasse todo tipo de sentimento que, quando misturados, provocam um efeito colateral sem igual. São eles:

Primeiro, se pegar pensando na pessoa amada em toda atividade que pratica: Quando acorda, quando escova os dentes, quando amarra o cadarço do tênis quando vai trabalhar, quando vai trabalhar, quando passa o cartão de ponto no trabalho, durante o trabalho, quando vai pegar um copo d'água no trabalho, quando almoça no trabalho, quando volta do trabalho, quando janta em casa, quando vai dormir e nem durante o sono, quando sonha, pára de pensar na mesma pessoa, e se pega, no outro dia quando acorda, pensando nela de novo.

Segundo, a sensação de querer a pessoa amada do seu lado o tempo todo, junto, grudado, olhando pro rosto que foi invadido por uma espinha que teima em não sair dele.

O terceiro efeito tem a ver com o segundo. É que apesar de querer tê-la do seu lado o tempo todo, você sente extremo desconforto quando percebe que o ser amado entrou no mesmo recinto que você está.

Quarto, o rubor da face e o emudecimento emocional quando este ser amado troca algumas míseras palavras com você.

Quinto, a confusão cerebral que a paixão provoca, te faz inverter essas míseras palavras em algo que você sonha em ouvir.
Um exemplo:

Basta ela chegar perto de ti e dizer: "Oi!", e o seu cerébro, inundado de uma das substâncias que a paixão lhe injeta, interpreta esse "Oi" como: "Tô gostando de você, sabia?"

O mais interssante é que logo depois, este mesmo cérebro, provavelmente depois da substância ter diminuído os efeitos, começa a negar que ela esteja realmente gostando de você. "Não, não, não. Eu tô pensando demais! Ela só me disse "Oi"... Não, não, não. Ela foi só gentil comigo." - Você começa a pensar.

E depois de alguns "Ois" sucedidos, você vooooolta novamente achar que ela RE-AL-MEN-TE está gostando de você.

Tolo! Mas não é culpa sua não. São apenas os efeitos colaterais da paixão, lembra?

Mal você imagina que, na verdade, ela tem dito esse mesmo "Oi" para um outro garoto que você sequer conhece.
E é justamente nesse momento qua a paixão dá seu golpe final.
O pior do efeitos, o mais devastador de todos.
É quando você vê a sua paixão ao lado da paixão que ela escolheu. E não é você o escolhido. Dói. Muito.
Mas é bom saber que é essa dor que te cura dos efeitos colaterais que tomaram conta de você. Uma dor que cura outra dor.
Uma injeção nas nádegas dói, mas te livra da gripe. Outra dor.

Um trecho de uma música diz: "Dai-me outra cor. Dai-me um amor. Dai-me outra dor."

Amar não é sofrer. Mas não pense que não irá sofrer quando se ama.
obs: Desculpe finalizar com uma frase clichê. Mas, o amor não é assim?

domingo, 18 de julho de 2010

Rascunho

Ele nasceu em 3 de dezembro de 1966.
Separado desde 2001.
Cirurgião plástico não conhecido, porém bem conceituado entre as meninas-mulheres que tem seus bustos aumentados, suas nádegas delineadas quase à perfeição e suas cinturas tornadas bem mais finas e sinuosas pelas suas mãos.

Há 2 meses uma de suas pacientes entrou com uma reclamação formal no fórum de pequenas causas contra um erro médico feito por ele.

Em casa, seu irmão mais velho nascido 2 anos antes, morava com ele desde a separação. O que pensava ser uma visita efêmera já durava mais de 3 anos. O querido rebento de seus pais havia criado raízes em seu lar como um câncer que despreza qualquer tipo de tratamento por mais eficiente que o mesmo seja.
Já não sabia mais o que fazer: O seguro trabalhista ainda não saiu pra você comprar seu apartamento? "Acho que ainda vai demorar mais um pouco. Você bem que podia ter se formado em Direito, como o papai queria, né?"- Respondia o irmão-câncer com uma voz que ele percebia estar temperada com sarcasmo.
À noite, não conseguia dormir. Sentia há umas 3 semanas, dificuldade para respirar e uma dor no peito quando inspirava.
"Deve ser preocupação demais com a audiencia marcada com aquela filha da mãe!"
A ex mulher parecia ter-se juntado a paciente, e agora pedia pensão por um filho que sustentava "sozinha" (ela já estava morando com o outro) e que ele desconfiava que nem sequer aquele menino que tinha cor mais escura que a sua e a da ex mulher somadas, fosse realmente dele. Afinal de contas, o "moreninho" de 5 anos foi o motivo da separação.

No Tribunal de pequenas causas, foi se encontrar pra audiência da paciente:
"Então, a senhora reclama que seus seios ficaram desproporcionais, correto?" - Perguntou o mediador.
" Isso mesmo. O direito tem 250 mls e o esquerdo, 253." - Respondeu a paciente com uma voz mais infantil do que aparentava as rugas visíveis do seu rosto.
" A Senhora pode nos mostrar?" - perguntou novamente o mediador.
A SENHORA PODE NOS MOSTRAR? " Que palhaçada é essa aqui nesse pequeno tribunal ?" - Perguntou o cirurgião-réu, desvirginando a conversa.
Fim da audiência.
Não teve jeito. o Cirurgião teve que pagar multa de R$5.000
referente a devolução do valor pago pela cirurgia e um acréscimo por danos morais e físicos pagos com serviços comunitários.

Decidiu depois de muito custo, uma resolução interna, visitar um xará profissional para diagnosticar a dor que sentia ao inspirar.
Com uma ferramenta específica e característica dos médicos, o xará pediu para o cirurgião retirar a camisa e encostou uma das extremidades da ferrarmenta no peito do cirurgião e a outra extremidade encaixou nos ouvidos como se fosse um fone de mp3 e disse: "Inspire". Depois: "Expire".
"Pois é, precisamos de um raio x".

O cirurgião saiu do consultório abalado com o que estava acontecendo em sua vida nos últimos 7 anos: Brigas conjugais, traição, separação, uma "visita" incômoda do seu irmão mais velho, que tinha pena de expulsar de casa pois estava debilitado, esperando receber uma pequena fortuna da empresa que o deixou daquele jeito; processo de uma paciente "despeitada", ação judicial com pedido de pensão alimentícia e uma dor no peito que uma simples consulta médica ainda não soube diagnosticar a origem do problema.
"Por que isso está acontendo comigo?" - Gritou no banheiro quando já parecia não suportar mais tanta pressão no coração e no peito que já doía fisicamente e agora, emocionalmente. Chorou. Compulsivamente. As lágrimas desciam pelo rosto, passava pelas narinas e por fim, se misturava com a saliva ao encontrar os lábios entre-abertos, emitindo um som cadenciado de profunda dor. Se enconstou na porta do banheiro e deixou cair seu corpo até se sentar no chão, enconstando os cotovelos nos joelhos e levando as mãos á cabeça , fazendo os cabelos preencherem os espaços entre um dedo e outro.

2 dias depois do grito, do desabafo solitário, recebeu a notícia que 30% do seu salário devia agora ser destinado ao filho que desconfiava não ser seu, mas que o amor que tinha por ele o fez não exigir um teste de paternidade. Assentiu calado a determinação do juiz.

Quando chegou em casa, depois de mais um dia sem clientes na sua clínica, seu telefone tocou. Era o xará profissional: " O resultado do raio x saiu" - Ouviu com angustia o cirurgião.

Foi ao consultório. O que viu no raio x quando o médico-xará colocou o exame naqueles quadros com uma luz fluorescente no fundo, foi algo assustador! Nem ele, muito menos o xará haviam visto algo como aquilo...

No caminho de volta pra casa não falou nada, afinal, estava sozinho no carro. Mas mesmo assim tinha costume de falar só. Desta vez, não.

Ao chegar em casa, também não conseguiu suportar o que viu:
O irmão sentado na sua poltrona, dormindo, de boca aberta, com uma lata de refrigerante caída em cima do tapete, molhando o presente recebido de um cliente seu. A televisão, comprada sem ajuda financeira, estava ligada e a sua luz batia no rosto do irmão folgado, que dormia.
O cirurgião, ao ver sua sala suja, sua casa ocupada e sua provacidade invadida, não suportou. Foi até a cozinha, pegou uma faca que usava para cortar carne de churrasco e desferiu 3 golpes no coração do irmão. 1 para cada ano que passou na casa. Após o crime, não conseguia parar de chorar. Chorava muito. Não sabia se de arrependimento ou de alívio por ter resolvido um dos seus problemas. O seu irmão foi o ser que recebeu a raiva que o cirurgião tinha do amante da sua ex mulher, da sua ex mulher, do mediador que queria ver os seios da paciente, da paciente, do juiz.

Em cima do centro da sala, em frente ao corpo ensanguentado do irmão, estava jogdo o resultado do raio x. Era câncer no pulmão. O que havia deixado o cirurgião e o xará pasmados, era o formato do nódulo malígno: No momento em que o xará colocou o exame na tela luminosa, lá no consultório, eles puderam observar que o câncer tinha forma de um ponto de interrogação gigante. Que começava perto da bexiga e subia até os pulmões. Daí vinha a dor que o cirurgião sentia ao respirar. "Volte amanhã pra conversarmos melhor. Agora vá pra casa e descanse. "- Disse o médico-xará ao cirurgião após visualizarem o raio x.

"Vá pra casa e descanse. Vá pra casa e descanse". Repetia mentalmente o cirurgião que acabara de receber, talvez, a pior notícia da sua vida, dentro do carro, a caminho do seu lar. Ao chegar em casa para "descansar", viu o que viu. Seu irmão. Folgado. "Como ele poderia estar desse jeito quando recebi uma notícia destas?" Como o cirurgião poderia seguir a receita médica de "descansar"? Fez o que fez. Assassinato Familiar.

A dúvida que sentia do porquê aquilo acontecia em sua vida, foi refletida na doença. No câncer que tinha forma de ponto de Interrogação. Parou de chorar e como se não tivesse feito nada, subiu as escadas e foi dormir. Descansar. Desejando que as suas dúvidas e angústias fossem dissipadas junto com a sua doença.

sábado, 10 de julho de 2010

Minha (P)Rima

Não quero mais cantar.
Desliguei o karaokê e os males continuam.

Cansei de escutar músicas fáceis
com rimas banais
onde já sei o final.

Sei onde a cantora desafina,
onde começa a rima,
onde a melodia termina...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Só uma curiosidade...



Vez por outra falamos qua sabemos uma música inteira de cor.
Ou seja, a memorizamos.
O interessante é que a palvara 'cor' significa:
Inclinação
Coragem
Desejo
Afeto
e...
CORação.
Portanto, quando dizemos que sabemos algo de cor é porque este 'algo' foi capaz de ter sido gravado no nosso coração. O centro das nossas emoções. E justamente por isso, o sabemos tão bem...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Voltamos!

Lá se vai mais uma copa.
Pelo menos pro Brasil.
O grito rouco de gol das pessoas
é interrompido por bolas na trave, bolas que passam perto gol, bolas que são defendidas pelo goleiro, bolas que cismam em não entrar.
Veio a virada do inimigo.
Veio o fim dos minutos.
É hora de procurar um culpado pelas lágrimas.
E a equação é simples:
Dividir o erro, pelos jogadores e o tecnico que é descedente
dos sete anões. Não é o Zangado.
O falso patriotismo chega ao fim.
As bandeiras tupiniquins que antes flamejavam na janela dos carros,
serão guardadas numa caixa de papelão, sabendo que serão de novo retiradas
do seu estado de hibernação daqui a 4 anos.
Os muros serão pintados com uma demão de cal velho para encobrir os enfeites verde e amarelo.
A estrela do "hexa", desenhada no asfalto das ruas sobre o brasão da seleção como se quisesse chamar a sorte ou prever uma vitória, será apagada com o vai e vem dos carros que passam por ela, já esqucida depois de um tempo.
Farei uma adaptação de uma piada escrita por um amigo. É ela:

-Alô? É da copa do mundo da África do sul?
-É.
-O Brasil está?
-Não. Saiu.

Virão as eleições, mais um presidente, um governador e uma cambada de corruptos que por sinal serão eleitos pelo mesmo povo que vê a copa.
Voltamos a realidade.
A realidade sempre volta.
Sejamos campeões ou não.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Trecho do livro "O vencedor está só" de Paulo Coelho.


Cada vez que lia nos jornais ou revistas os políticos de sempre usando o aquecimento global, ou a destruição do meio ambiente como plataforma para suas campanhas eleitorais, pensava consigo mesmo:
"Como podemos ser tão arrogantes? O planeta é, foi e será sempre mais forte que nós. Não podemos destruí-lo. Se ultrapassarmos determinada fronteira, ele se encarregará de nos eliminar por completo da superfície, e continuará existindo. Porque não começam a falar em 'não deixar que o planeta nos destrua'?"
Porque "salvar o planeta" dá a sensação de poder , de ação, de nobreza. Enquanto "não deixar que o planeta nos destrua" é capaz de nos levar ao desespero, à impotência, à verdadeira dimensão de nossas pobres e limitadas capacidades.

terça-feira, 22 de junho de 2010

...

Um homem era tão pequeno, mais tão pequeno,
que quando viu uma bola de gude saiu correndo pra cima dela gritando:
-O Mundo é meu! O Mundo é meu!

domingo, 20 de junho de 2010

Obra Prima

Tirem fotos enquanto permito.
Espere o ônibus enquanto ele não vem.
Corra enquanto ainda pode alcançar.
Tente enquanto ainda te derem chance.
Ame enquanto for amado
ou mesmo quando deixar de ser.
Lave enquanto a sujeira estiver ainda recente.
Converse enquanto derem espaço pro diálogo.
Escute enquanto tiver alguém falando
e fale mesmo que um só esteja ouvindo.
Torça enquanto seu time ganha
e torça com mais garra ainda, quando estiver perdendo.
Deixe a luz acesa até que o último durma.
Acima de tudo, acredite.
Acredite em si mesmo...
...mesmo que os outros mintam.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

CQ


chocolate quente para "enfants"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Apesar de tudo...

Diante de todos os problemas da vida,
superá-los é o maior dos obstáculos.
Sempre desejei uma vida perfeita
e pensava que pudesse obtê-la.
Quanta igenuidade.
Por que mereceria tal dádiva?
Apenas por causa do egoísmo
quem vem do fato de me achar melhor que outros?
Assim segue minha vida.
Apesar das perdas, das decepções,
das amizades desfeitas, do cansaço de ser sempre a mesma pessoa, do ônibus lotado.
Mas minha vida segue.
Graças ao fato de poder me movimentar livremente, sem a ajuda de ninguém, de poder sentir ao mesmo tempo o gosto e o sabor da mistura de um bombom de chocolate com um recheio de morango, de poder apertar com os lábios outros lábios de alguem que se ama, de sentir o cheiro da maresia que adentra a porta do meu apartamento, de saber que o vento que enxuga o suor do meu rosto, existe, de fato. E é o mesmo que faz balançar a cortina da janela do meu quarto.
De repente o sono me pega.
E durmo. E fico feliz de saber que tudo isso não era um sonho.
Era real. Essa, era a minha vida.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

As Horas

Não sei o que acontece comigo.
Parece que minha alma sente que existe uma pendência a ser resolvida e eu não sei o que é.

Acordei cedo. Saí na chuva. Fiz a barba. Voltei na chuva. Fui pro trabalho. Na chuva.
Fiz compras. Cheguei em casa. Nem a chuva nem a angústia passaram.
Será que no outro dia isso passa?

Meu peito dói. Meus olhos querem fechar. Se enchem d'água.
O cachorrinho e sua dona que passeiam na rua
parecem perceber meu íntimo. Olham pra dentro de mim.

Mas o que é isso meu Deus?

Se me perguntassem porque eu sofro, o que eu vou dizer, se eu não sei?

- "VOCÊ SABE O QUE É, MAS FINGE NÃO PERCEBER". Diz o psiquiatra depois de uma cara consulta.

Agora estou aqui. Assim. Molhado da chuva, sem dinheiro no bolso (por causa do psiquiatra)... e a angústia continua.

Não sabia mais o que fazer quando de repente, sem explicação, a dor passou.
Se foi. Simples assim.
Tentei revirar nos arquivos mortos das minha lembranças
o que eu fiz para a dor passar.
Remédios, Consultas caras, Passeios, conversas?
Não. Foi o tempo.
O Tempo curou a minha dor.

domingo, 9 de maio de 2010

Para Eyka. Abraçu!

Vai um cachorro quente aí?

Bill...

Eu jogo um papel de bala pela janela
e ele se junta a tantos outros.
um menino na praia observa
cada movimento que eu faço pra disfarçar.

Eu leio a revista da semana
e nenhuma notícia interessante tem
quando de repente me pego assustado...
hoje é o meu aniversário!

Eu nem percebi que o dia 16 chegou
Eu nem percebi que julho veio e o mês já passou...

Vou fazer alguma interessante,
chamar alguns amigos pra jantar.
eu não vou pedir essas comidas prontas.
um tempeiro caseiro
parece cair melhor.

Combinei com todo mundo hoje a noite,
mas até agora ninguem apareceu.
a comida estava quase esfriando,
quando de repente a minha porta bateu.

só podia ser você mesmo você pra vir aqui.
pra não me deixar sozinho contar piada e me fazer rir...

Puxa um colchão deita aqui comigo.
Deixa de frescura você é meu amigo.
Aí vamos passar a noite conversando.
Falar qualquer bobagem que nos é permitido.

domingo, 2 de maio de 2010

CQ


c q
h u
o e
c n
o t
l e
a
t
e

zzz

Dormir é bom.
O chato é ter que ir dormir.

Tios, Mãe, Pai, Amigo.



Screv

Pouco me importo se saio na rua e não me conhecem mais.
Já não me agrada mais uma vida agitada.
E se me dessem a chance de mudar, eu mudaria.
Não sou daqueles que afirmam com convicção hipócrita:
"Faria tudo de novo!"
Faria nada...seu mentiroso!
Tem sempre uma coisa pra mudar, melhorar, retirar, aumentar.
Emprego, vida familiar, sogra, seios.
Repórter: -Você escreveria um livro da sua vida?
Você: -Hum...num sei. Só se eu pudesse mudar, melhorar, retirar e aumentar.
Repórter: -Não. Não pode não.
Você: -Então, não.
Que m****!
O que seria de tua vida se não fossem os erros?
Se não fosse um "erro" do meu pai, eu não teria nascido!
Um erro pode valer uma vida.

sábado, 24 de abril de 2010

Salmo 55:6

"Quem me dera, feito a pomba, asas ter. Poder voar.
Pra bem longe dos iníquos, eu iria habitar."

Hoje

Tomei café quente.
Odeio café.
Mas o tempo frio estranha a minha garganta que procura qualquer líquido aquecido a fim de amenizar a sensação incômoda.
Fui convidado mas não saí.
Sonolento mas sem dormir.
Vontade de escrever mas sem idéia do que.
Beyoncé?
Sem chance.
Vou dormir.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Her

Quando vejo ela aparecer de longe
meu peito fica pequeno, apertado.
Talvez porque o coração se enche e não cabe dentro de mim.
Tudo ao meu redor fica branco neve.
Ninguém está por perto. Ninguém.
Vem balançando.
O vento que sopra
parece levar de propósito os fios de seu cabelo
para entre os lábios úmidos.
só pra ver o seu braço se levantar
e guiar a mão direita aos mesmos lábios
e retirar dele o fio que foi parar ali sem ser chamado.

O vestido estampado também se movimenta em ondas
e tocam suas pernas que o sol parece não conseguir queimar
mas deixa nelas o seu brilho.
Ela chega mais perto
e toda a sensação de início se repete numa escala muito maior.
O peito aperta mais, o coração já parece estar fora dele.

E o sorriso... ah... o sorriso.
Desse não posso descrever.
É o cartão de visitas de seu corpo.
Que como um bom anfitrião
parece convidar-me a provar dele.
Mas não provo.
Não porque não queira.
É porque não posso.
só por isso.

Essa é ela.
É ela.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

zzzz!

^^

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Sou aquilo que os outros dizem quem sou. Afinal, acreditam mais neles que em mim.