
Vou ficar sentado no banco em frente a praia
esperando a noite chegar.
Tiro os sapatos, as meias. Vejo as veias esverdeadas dos meus pés, cansados de me levar onde minha mente planejava ir.
Levo eles até a areia e sinto um formigamento delicioso que me faz levantar o canto direito da boca ensaiando um sorriso.
Até a noite vir, fico assistindo um filme. Belíssimo.
É quando a tarde chega, anunciando que a noite está próxima.
Percebo donde estou repousado, uma enorme linha horizontal: O encontro do mar com o céu.
Me é estranho saber que aquele não é o fim do horizonte.
É apenas uma ilusão ótica do limite.
A estranha sensação humana de achar ou querer que tudo seja para sempre, mas saber que no fundo, tudo tem seu fim, assim como teve um começo.
O cheiro de sal toma conta do meu olfato.
Tanto, que chego a sentir o gosto.
Ouço crianças gargalhando, possivelmente como resultado de cócegas no abdôme ou simplesmente de felicidade.
Minha visão, embora limitada pela idade e por 75 anos de uso contínuo, ainda me dá licensa para distiguir as nuances que apenas um fim de tarde poder trazer.
Só a natureza é capaz de brincar com as cores que quiser, as cores que achar melhor, e ainda assim não ser brega.
É um filme, como disse, belíssimo.
Por mais um pouco de tempo, o clímax vai-se embora.
Os tons azul-escuro-da-meia-noite começam a tomar conta da paisagem, até que a noite finalmente chega. Já não enxergo um palmo a minha frente.
Tateio o banco á procurar pelas meias. As acho. Visto-as e em seguida calço os sapatos amarrando com dificuldade os cadarços semi-gastos.
As juntas das mãos me cansam todo o corpo.
Volto a encostar as costelas no encosto do banco.
Me levanto, procurando apoio no banco com as palmas das mãos. Me equilibrar é outro sacrifício.
Apanho do bolso meus óculos e consigo ter uma sobre visão do que ocorre em minha volta.
Já na metade do caminho de volta pra casa percebi que minha carteira, meus documentos, haviam ficado no banco da praia, guardando a foto da minha neta.
"Dane-se!" - Resmunguei.
O dinheiro, tem mais em casa.
Os documentos, tiro outros depois.
A foto de minha linhagem, guardo na memória.
Só o que não posso recuperar é minha saúde.
E esta, eu não deixei esquecida no banco. Levo a saúde, ou a falta dela, sempre comigo.
Porque se tivesse esquecido as doenças dentro da carteira, também não faria a mínima questão de voltar pra pegar!
...Andando, devagar, com dificuldade; agradeço a Deus por ter me permitido viver todo esse tempo.
A vida... é um dom que não merecemos. É um presente. Um milagre divino.
1 comentários:
Migo, cada vez melhor!! Lança logo o seu livro!!! Sereri a 1ª a comprar!!!
Bjssssssssssssss
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