terça-feira, 30 de maio de 2017

Meias verdades

No meio da bagunça do meu quarto,
acho o outro par de meia que faltava.
Azul, de bolinhas brancas minúsculas.
Sem querer tocar o pé descalço no chão frio,
pulava feito saci lá e cá, cima em baixo.
Não demorei.
Nunca entendi bem porque meu quarto,
mesmo com a melhor das intenções
se via desarrumado.
Vezes, só uma camada fina de pó.
Outras, marcas de uma barata morta há dias.
A sensação de uma limpeza era aconchegante.
E necessária de tempos em tempos.
Um quarto nunca deveria ficar bagunçado.
Mas fica.
Meus sentimentos, meu coração, meus intestinos.
Doem de aflição.
Procuro, na bagunça das minhas ideias, um pensamento bom
que falta pra completar o equilíbrio mental.
Ao contrário de uma meia perdida, nem sempre acho fácil.
Há quem saiba porque minha cabeça não se arruma.
Porque ela se bagunça.
Porque se espalha, porque se desconcerta, porque dói.
Mesmo que eu arrume várias vezes,
Que eu encontre aquele pensamento bom, perdido.
Um vento frio volta e inunda meus pulmões
me enchendo de ansiedade, de um futuro incerto,
de desejos de melhora, de morrer logo, de viver pra sempre.
Um quarto nunca deveria ficar bagunçado.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Cheiro


Botão fulora na seca
eu venho ajudar o senhor
Orgulha de mim, pai
orgulha de mim...

Passado ficou pra bem longe
eu venho ver o que é
perdoa a mim, pai
perdoa pra mim...

Trabalho é muito, eu sei.
Enxada na mão, é terra demais.
Força divina, muito bem vinda, é.
firmeza no chão, confia em mim.

Pra tudo dá-se um jeito
me ensinou andar
Veio do Senhor, Pai
Veio do Senhor...

Lembrança, Vitória, um grito.
Manga espada no pé
Pega uma pra mim, pai.
Pega uma pra mim...

sábado, 8 de março de 2014

Bebida



Pássaro no fio, equilíbrio.
Faz forma na nuvem quando passa.
Quem foi que durmiu aqui? Você, não foi...
Se fosse, o vento levava o cheiro.

Ruma pro outro lado
Esquece o bar
A toalha de mesa manchada
O dia quente.

O Pássaro no fio, se foi. Caiu.
Atingido pelo vento frio
do teu hálito em choque

Leia um livro,
Distrai tua mente
e volta quando tudo estiver bem.

Te espero com asas abertas
Um pássaro morto.
Abertas, mas paradas.
Não vai adiantar mais.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Gáz

Gim, absinto.
Estômago, febre.
Verberação, suor.
Declarações, de amor.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

À Solo Seco

A chuva caiu cedo e o cheiro de terra invadiu minha casa.
Lá longe, ouço o som da zabumba batendo forte.
É fulano, agradecendo feliz aos céus do Senhor pelo choro de Deus.
Amanhã tem feijão na mesa, tem comida no prato.
Meu Deus... é muita bondade tua!
O Vento grosso e forte denuncia que a chuva é passageira.
Mas que venha.
Sacode o varal, quase leva embora meu teto de palha seca.
Meus olhos se enchem de lágrimas agradecidas.
É Deus abençoando minhas mãos, meus calos, meu suor.
É Deus alimentando minha mulher, meus filhos e minha fé.
Cai chuva, e não vá embora.
Desce suave pelo meu terreno, refresca o dia.
Porque eu só saio da janela quando você passar.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Lá fora...

Hoje o vento bateu diferente no vidro da janela.
Sentado no sofá da sala, olhei pra trás, como tentasse adivinhar o que seria.
Uma leve dor na nuca distraiu minha atenção no livro que lia.
Eram os problemas chegando.
A discórdia, a falta de diálogo e de paciência, o futuro incerto.
Uma ansiedade que invade o peito e me deixa triste, assim, de repente.
O mal aparece tão inesperado como o tempo que muda no céu.
Nuvens negras e espessas se formam deslumbrantemente, anunciando um grosso temporal.
O trovão me assusta; os raios, iluminam a sala.
Olho, da janela, pro alto, e o vento, já mais intenso e úmido, molha de leve meu rosto. Fecho os olhos.
Me sinto perto de alguma coisa que eu não sei bem o que é. De Deus, do mar, do horizonte.
Encho os pulmões ao limite, como guardando fôlego para a tragédia que se aproxima.
Receio que o teto não seja firme, que as vigas balancem, e as paredes rachem do chão até em cima.
Que Deus nos dê forças para sustentar o que me resta, e levantar o que sobrar depois.
Hoje, o vento bateu diferente.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Toma


O Amor meiou a metade do meu amor.
Molhou o moletom no varal.
Me pergunto quem tomou do meu copo o meio que sobrou do meu amor.
A metade que restou foi você quem tomou.
Já tinha pouco... e você tomou o resto.
Bem vinda, amor.
você chegou e me tomou tudo, levando embora o resto do copo do meu amor. Um vendaval.
Me confundiu, diluiu tudo o que eu tinha.
Que bom que você chegou, meu amor.
Agora estou completo, mesmo sabendo que meu copo meiou mais pro vazio.
O amor esvaziou... porque você tomou, mas me completou com o teu.
Chega, amor. E não vá embora.

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Sou aquilo que os outros dizem quem sou. Afinal, acreditam mais neles que em mim.