Um acabava de chegar e abria as portas para o enxágue de gente oriundas do centro.
O outro, também de portas abertas, aguardava a chegada e entrada dos que queriam se
distanciar do bairro.
Eu havia saído do primeiro trem.
Senti uma vontade súbita de não subir a escada rolante que me levava à saída da estação.
Quis ficar. E por um instante meditei na hipótese de voltar para onde havia acabado de vir. Pegar o trem de retorno. Enquanto a multidão se apressava para chegar em casa, se atropelando e correndo rumo ao êxodo, eu parei. Plantado como pé de abacate com meu agasalho verde, senti o vento gelado do frio que fazia na estação sem paredes. Cheguei a dar dois passos em direção ao trem. Recuei. Enfim, decidi que não adiantava retardar a saída, porque uma hora ou outra teria que sair dali. Porque a estação, uma hora, fecha.
Na vida existem momentos que parecem nos convidar a refletir nosso caminho - o percorrido, e o que temos que percorrer. O Passado, o presente e o futuro formam uma trindade singular, rara e intolerante. A nostalgia vem à tona nos

instigando a relembrar a vida pretérita e sentir prazer daquilo que já passou. Rememoramos as risadas, os bons momentos e como de costume, coisas indesejáveis e incômodas fazemos questão de minimizar. Daí vem um desejo louco e fisicamente impossível de querer que o tempo volte. Mas é no instante em que nos damos conta dessa irrealidade, que percebemos nossa atual condição: O presente. O agora. O presente que não para, que constantemente nos empurra à frente, o presente efêmero e por vezes injusto que não nos deixa refletir para tomar decisões acertadas. Seguimos adiante,deixando o passado para trás, o pleonasmo da vida, e rumamos ao futuro que nos aguarda,firme e impreterível, exato e incerto. O paradoxo da vida, porque é assim que tem que ser.
Os dois trens: o de chegada e o de partida, se vão.
E então, subimos a escada rolante da estação de nossas vidas impelidos pela força do tempo em direção ao duvidoso, porém delicioso futuro que aguarda ansiosamente nossa chegada. Subimos as escadas da saída porque um hora ou outra, a estação da vida se fecha.
1 comentários:
Oi :))
Como sempre, um arraso! É tão bom saber que nesse anto de superficialidade que é a rede, ainda encontramos coisas profundas e verdadeiras.
Quem dera fosse se todos os autores autores pudessem usar de alma como você.
Bjos.
Sua eterna fã.
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