segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Poeira
A quantidade de poeira que cobre como um tapete cinzento os móveis do meu quarto são sintomas do desinteresse pelas coisas que acontecem á minha margem.
As decepções sofridas em vários campos da minha vida talvez me tenham feito ficar inerte e insensível aos problemas alheios.
O egoísmo, se não chegou no seu limite tolerável, vai daqui a alguns dias transbodar, como o gás do refrigerante que cresce dentro do copo até manchar a toalha de mesa.
A toalha da minha mesa.
Amizade, família, trabalho, vizinhos, colegas, cúmplices, amores, inimigos, amantes, empregados e todas as outras coitadas criaturas que estão próximas a mim e não se encaixam nas categorias do meu vocabulário pobre e mesquinho.
Todos saem manchados do meu egoísmo em excesso.
Ah... Pudera alguém perceber e vivenciar meus problemas.
Entendê-los.
Esta é a desculpa esfarrapada de todos os egoístas incompreendidos, todos os problemáticos incompreendidos, todos os neuróticos incompreendidos, todos os depressivos incompreendidos.
A deselegância do próximo não é a ignorância do diagnóstico.
É a ignorância da compreensão.
É ouvir um enfermo e achar que o que ele sente é frescura.
Peço o perdão de todos pela intolerância que cultivei desde moço.
Não soube colocar nela cabresto.
Cresceu e assoberbou-se, enraizando no meu ser a falta de empatia.
Perdoem-me.
Quem sabe um dia se recordem de alguma virtude minha.
Quando este dia chegar, acreditem, farão anos que já não existo.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Trilhos
Parado na estação, notei que haviam dois trens imóveis a cada lado.
Um acabava de chegar e abria as portas para o enxágue de gente oriundas do centro.
O outro, também de portas abertas, aguardava a chegada e entrada dos que queriam se
distanciar do bairro.
Eu havia saído do primeiro trem.
Senti uma vontade súbita de não subir a escada rolante que me levava à saída da estação.
Quis ficar. E por um instante meditei na hipótese de voltar para onde havia acabado de vir. Pegar o trem de retorno. Enquanto a multidão se apressava para chegar em casa, se atropelando e correndo rumo ao êxodo, eu parei. Plantado como pé de abacate com meu agasalho verde, senti o vento gelado do frio que fazia na estação sem paredes. Cheguei a dar dois passos em direção ao trem. Recuei. Enfim, decidi que não adiantava retardar a saída, porque uma hora ou outra teria que sair dali. Porque a estação, uma hora, fecha.
Na vida existem momentos que parecem nos convidar a refletir nosso caminho - o percorrido, e o que temos que percorrer. O Passado, o presente e o futuro formam uma trindade singular, rara e intolerante. A nostalgia vem à tona nos
instigando a relembrar a vida pretérita e sentir prazer daquilo que já passou. Rememoramos as risadas, os bons momentos e como de costume, coisas indesejáveis e incômodas fazemos questão de minimizar. Daí vem um desejo louco e fisicamente impossível de querer que o tempo volte. Mas é no instante em que nos damos conta dessa irrealidade, que percebemos nossa atual condição: O presente. O agora. O presente que não para, que constantemente nos empurra à frente, o presente efêmero e por vezes injusto que não nos deixa refletir para tomar decisões acertadas. Seguimos adiante,deixando o passado para trás, o pleonasmo da vida, e rumamos ao futuro que nos aguarda,firme e impreterível, exato e incerto. O paradoxo da vida, porque é assim que tem que ser.
Os dois trens: o de chegada e o de partida, se vão.
E então, subimos a escada rolante da estação de nossas vidas impelidos pela força do tempo em direção ao duvidoso, porém delicioso futuro que aguarda ansiosamente nossa chegada. Subimos as escadas da saída porque um hora ou outra, a estação da vida se fecha.
Um acabava de chegar e abria as portas para o enxágue de gente oriundas do centro.
O outro, também de portas abertas, aguardava a chegada e entrada dos que queriam se
distanciar do bairro.
Eu havia saído do primeiro trem.
Senti uma vontade súbita de não subir a escada rolante que me levava à saída da estação.
Quis ficar. E por um instante meditei na hipótese de voltar para onde havia acabado de vir. Pegar o trem de retorno. Enquanto a multidão se apressava para chegar em casa, se atropelando e correndo rumo ao êxodo, eu parei. Plantado como pé de abacate com meu agasalho verde, senti o vento gelado do frio que fazia na estação sem paredes. Cheguei a dar dois passos em direção ao trem. Recuei. Enfim, decidi que não adiantava retardar a saída, porque uma hora ou outra teria que sair dali. Porque a estação, uma hora, fecha.
Na vida existem momentos que parecem nos convidar a refletir nosso caminho - o percorrido, e o que temos que percorrer. O Passado, o presente e o futuro formam uma trindade singular, rara e intolerante. A nostalgia vem à tona nos

instigando a relembrar a vida pretérita e sentir prazer daquilo que já passou. Rememoramos as risadas, os bons momentos e como de costume, coisas indesejáveis e incômodas fazemos questão de minimizar. Daí vem um desejo louco e fisicamente impossível de querer que o tempo volte. Mas é no instante em que nos damos conta dessa irrealidade, que percebemos nossa atual condição: O presente. O agora. O presente que não para, que constantemente nos empurra à frente, o presente efêmero e por vezes injusto que não nos deixa refletir para tomar decisões acertadas. Seguimos adiante,deixando o passado para trás, o pleonasmo da vida, e rumamos ao futuro que nos aguarda,firme e impreterível, exato e incerto. O paradoxo da vida, porque é assim que tem que ser.
Os dois trens: o de chegada e o de partida, se vão.
E então, subimos a escada rolante da estação de nossas vidas impelidos pela força do tempo em direção ao duvidoso, porém delicioso futuro que aguarda ansiosamente nossa chegada. Subimos as escadas da saída porque um hora ou outra, a estação da vida se fecha.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Bumerangue
Num dia de semana, Jonas, ainda pirralho, lançava o bumerangue pelos céus do parque.
Não entendia porque todas as vezes tinha de buscá-lo longe para relançá-lo, se o objetivo do artefato era voltar para as mãos do arremessador.
A insatisfação de não ver o bumerangue fazer a sua parte, fez Jonas guardá-lo no seu baú de brinquedos em meio aos outros.
Jonas cresceu. Se desenvolveu e apaixonou-se. Morava sozinho num apartamento pequeno o suficiente para cabê-lo junto com suas idéias.
Ainda se convalescia do fim do namoro de 2 anos e meio, ou quase isso (nunca sabemos exatamente o tempo do amor) quando apareceu Lígia. Uma estagiária de corpo delgado, claro e pequeno, olhos verdes e cabelo ralo e fino.
Os dois rapidamente encontraram pontos em comum. Tantos pontos evoluiram para uma ligação tão estreita que impeliu Jonas a covidá-la como hóspede por tempo indefinido em seu apartamento.
Ambos estavam felizes com o andamento de suas vidas conjugadas. Dormiam, acordavam, escovavam os dentes, trabalhavam juntos.
Um belo dia de semana depois da janta insossa preparada por Lígia, o interfone tocou.
-Seu Jonas? É a Dona Melissa, pode deixar subir?
Ouvir aquele nome de novo parecia assusutador mas a curiosidade em saber o motivo da revisita o fez descer até a portaria do prédio. Vestido com um samba-canção e uma regata branca pouco larga, o que indicava que o sono estava iminente, Jonas viu a ex aos prantos pedindo pra subir e conversarem. Ele se mostrava incrivelmente surpreso com aquele pedido porém negou-se a deixá-la subir.
Alguns meses antes Melissa havia ido embora sem nenhum diálogo, a não ser um monólogo escrito por ela mesma, num pedaço de papel rasgado da agenda do ano anterior. Agora, ela pedia pra voltar. Seu coração não deveria titubear. Mas titubeou.
No dia seguinte se encontraram no lugar marcado ainda naquela noite da portaria. Durante a conversa, Jonas não conseguia se concentrar nas desculpas vomitadas com saliva que saiam da boca de Melissa. Pensava no dia que ela se foi, pensava em Lígia e pensava naquela situação ridícula em que se encontrava. Decidiu, convictamente, que não havia volta.
As pessoas vem e vão. Vão quando não queremos e vem quando não esperamos.
Ao chegar em casa, de volta do encontro, Jonas procurou pelo bumerangue de criança. Achou. Agora, reparava naquele brinquedo com outros olhos.
Não entendia porque todas as vezes tinha de buscá-lo longe para relançá-lo, se o objetivo do artefato era voltar para as mãos do arremessador.
A insatisfação de não ver o bumerangue fazer a sua parte, fez Jonas guardá-lo no seu baú de brinquedos em meio aos outros.
Jonas cresceu. Se desenvolveu e apaixonou-se. Morava sozinho num apartamento pequeno o suficiente para cabê-lo junto com suas idéias.
Ainda se convalescia do fim do namoro de 2 anos e meio, ou quase isso (nunca sabemos exatamente o tempo do amor) quando apareceu Lígia. Uma estagiária de corpo delgado, claro e pequeno, olhos verdes e cabelo ralo e fino.
Os dois rapidamente encontraram pontos em comum. Tantos pontos evoluiram para uma ligação tão estreita que impeliu Jonas a covidá-la como hóspede por tempo indefinido em seu apartamento.
Ambos estavam felizes com o andamento de suas vidas conjugadas. Dormiam, acordavam, escovavam os dentes, trabalhavam juntos.
Um belo dia de semana depois da janta insossa preparada por Lígia, o interfone tocou.
-Seu Jonas? É a Dona Melissa, pode deixar subir?
Ouvir aquele nome de novo parecia assusutador mas a curiosidade em saber o motivo da revisita o fez descer até a portaria do prédio. Vestido com um samba-canção e uma regata branca pouco larga, o que indicava que o sono estava iminente, Jonas viu a ex aos prantos pedindo pra subir e conversarem. Ele se mostrava incrivelmente surpreso com aquele pedido porém negou-se a deixá-la subir.
Alguns meses antes Melissa havia ido embora sem nenhum diálogo, a não ser um monólogo escrito por ela mesma, num pedaço de papel rasgado da agenda do ano anterior. Agora, ela pedia pra voltar. Seu coração não deveria titubear. Mas titubeou.
No dia seguinte se encontraram no lugar marcado ainda naquela noite da portaria. Durante a conversa, Jonas não conseguia se concentrar nas desculpas vomitadas com saliva que saiam da boca de Melissa. Pensava no dia que ela se foi, pensava em Lígia e pensava naquela situação ridícula em que se encontrava. Decidiu, convictamente, que não havia volta.
As pessoas vem e vão. Vão quando não queremos e vem quando não esperamos.
Ao chegar em casa, de volta do encontro, Jonas procurou pelo bumerangue de criança. Achou. Agora, reparava naquele brinquedo com outros olhos.
sábado, 7 de abril de 2012
A peça
Hoje, é você quem vai. Amanhã, serão outros.
Como num quebra-cabeça ás avessas, a cada jogada formada perco uma peça em vez de juntá-la.
Paulatinamente a imagem se desfaz quando deveria se formar.
Me pergunto como será minha vida agora...
Não essa vida real que se mantém com palpitações cardíacas.
Eu falo da vida que existe por trás da vida.
Os sentimentos, as companhias, os sabores, o vai e vem do trabalho pra casa, os momentos felizes e tristes, as decepções, as alegrias, o orgulho, o nervosismo, as lembranças... As saudades.
Tudo isso vai mudando até mudar de vez.
Me cansei de ficar perdendo as peças.
A gente vai aprendendo a se adaptar ao novo cenário até que a última peça do palco seja retirada. Eu.
Enquanto houver platéia; enquanto existir alguém por quem me interessar e me assistir, Sigo.
Virão outros dias que vão me fazer esquecer os anteriores.
E nesse processo, as coisas ao meu redor se transformam me fazendo acreditar que tudo voltou ao normal.
Não é que tenha voltado. Eu é que me acostumei com a novidade.
Amigos não são aqueles que contam segredos entre si.
São aqueles que respeitam os segredos deles, mesmo sem saber quais são.
Não são aqueles que conversam o tempo todo.
Mas os são, aqueles que sabem o momento certo de ficar quieto e simplesmente, ouvir.
Lá se vai, pela janela da sala, mais uma risada.
Que os ventos se encarreguem de trazê-la de volta
e que o tempo e a distância não formem uma barreira invisível entre nossas cartas.
Como num quebra-cabeça ás avessas, a cada jogada formada perco uma peça em vez de juntá-la.
Paulatinamente a imagem se desfaz quando deveria se formar.
Me pergunto como será minha vida agora...
Não essa vida real que se mantém com palpitações cardíacas.
Eu falo da vida que existe por trás da vida.
Os sentimentos, as companhias, os sabores, o vai e vem do trabalho pra casa, os momentos felizes e tristes, as decepções, as alegrias, o orgulho, o nervosismo, as lembranças... As saudades.
Tudo isso vai mudando até mudar de vez.
Me cansei de ficar perdendo as peças.
A gente vai aprendendo a se adaptar ao novo cenário até que a última peça do palco seja retirada. Eu.
Enquanto houver platéia; enquanto existir alguém por quem me interessar e me assistir, Sigo.
Virão outros dias que vão me fazer esquecer os anteriores.
E nesse processo, as coisas ao meu redor se transformam me fazendo acreditar que tudo voltou ao normal.
Não é que tenha voltado. Eu é que me acostumei com a novidade.
Amigos não são aqueles que contam segredos entre si.
São aqueles que respeitam os segredos deles, mesmo sem saber quais são.
Não são aqueles que conversam o tempo todo.
Mas os são, aqueles que sabem o momento certo de ficar quieto e simplesmente, ouvir.
Lá se vai, pela janela da sala, mais uma risada.
Que os ventos se encarreguem de trazê-la de volta
e que o tempo e a distância não formem uma barreira invisível entre nossas cartas.
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Quem sou eu
- Thiago.Araujo
- Sou aquilo que os outros dizem quem sou. Afinal, acreditam mais neles que em mim.